Chovendo em "fusas"

O sol se foi de repente

a chuva chegou sem convite,

bate agora no telhado

na 

única sinfonia que sabe,

tento então com ela ritmar

lá...fá...mi

lá...fá ...mi

dó...dó.

de vez em quando um Si

fora de lugar, gotejando

sem espaço,

os pingos que não sabem a música

batem mais forte na porta de aço,

ficam pausando e só entram em fusas

Capto o ritmo, que sono vai dando,

espero passar o som devagar

cochilo suave vai me tomando,

não dormirei,

preciso com a chuva cantar

lá...fá...mi...

lá...fá...mi...

dó...dó...

Si...

lá...fá...mi...

zzz...zzz...zzz...


             Neusa Marilda

Escrito quando chovia bem (27/01/09)





Simplesmente poeta

Gosto de ser assim como sou. Simples e vivendo num mundo que muitos nem imaginam como seja. Gosto de ser adulta e ter um bom pedaço de coração ainda adolescente e dentro dele guardar os sonhos puros e outros loucos. Talvez nem me entendam, minha trilha neste caminhar da vida foi traçada de forma diferente da grande maioria e nela recolho o que há de melhor, sem receio de nada, dentro do bucolismo que herdei e faço questão de cultivar. Assim como ouço trinados de pássaros e brisas cantantes, também posso ouvir estrondos de canhões que fazem tremer o chão. Assim como se estivesse sem relógio que marque horas e compromissos, num "dolce far niente",  na preguiça de horas languidas, também posso ouvir os toques da alvorada em alerta e da ordem do dia que precisa ser cumprida. Mas isso não é estar entre o céu e a terra ou à beira de um abismo. É apenas um modo diferenciado de viver e que não surpreende ou cansa, pois existiu desde que os olhos se abriram ao mundo. Vejo este cor de rosa, mas junto a essa cor há um intenso verde que sempre me acompanhou e desde antes de minha chegada à este plano terrestre. Piso firme no chão  e tenho passos seguros, quase uma marcha sincopada, porém também possuo asas de borboleta e quando quero, as ruflo e voo tranquilamente pelas paragens. Posso ir em segurança e livre, de jardim em jardim e percebo todas as flores e perfumes. De vez em quando necessito voos mais altos e longos e crio minhas asas de condor subindo aos céus em poderosa viagem. O que recebo então é o vento mais puro das altas camadas e ali, junto a ele, olho para baixo e noto toda a miséria humana e sinto pena de todos. O mundo é tão belo, perfeito para uma vida plena e boa e o ser que o nele mora estragou tudo, acabou com seu habitat e é revoltado, infeliz e sem direção! Nunca me negarei o voo, pouso suavemente e mais tranquila e dando mais valor ainda a tudo que tenho e ao que sou. Mas o que sou ?
Simplesmente uma poeta, pessoa que sai à cata de inspiração e a encontra em todo e qualquer canto, pois ali vive a poesia. Basta procurar, cada qual a seu modo. O meu é esse, sem apelações e termos que chamem atenção, sem falar de corpos e sensualidades, porque este é apenas um meio de transporte necessário nesta terra. Sou perecível, como qualquer ser humano e cultuo muito mais o espírito do que a carne, embora cuide bem dessa e seja normal quanto a desejos.


12/11/14