Canções dos ventos



Foi assim, quase assim e será ...?
Falava com o vento. Houve época em que o recriminava, isto quando o insolente despenteava seus cabelos arrumados de maneira especial. Ele chegava e num sopro só fazia redemoinhos nas madeixas finas que se lançavam numa dança frenética. Ah...como ele era ousado e quantos impropérios deve ter ouvido! Com o tempo foi se acostumando a essa intromissão e até achava-se linda com os penteados que o intrometido fazia nos seus cachos. Passou a observá-lo noite e dia em cantigas ou gemidos que trazia de longe. Jurava que ele sabia contar as suas histórias e fatos lá do vazio por onde havia passado. Acostumou-se a decifrar sua voz e até a esperar sua vinda já considerada amiga. Como brisa chegava trazendo perfumes, cantos suaves e em outras horas era apenas um intruso de voz desafinada, forte e sem noção de onde queria ir. Viajava com ele por sobre montanhas e descia aos vales, onde rasteiro ficava a atropelar as miúdas flores do campo. Um dia recebeu de sua voz a mensagem: um perfume diferente, suave e marcante que parecia dizer - logo estarei com você, acolha-me, sou o amor verdadeiro. De onde viriam esse murmúrios? Onde ele os captou ? Assim, num ápice e surpresa a garota guardou este canto e odores num lugar do coração e ainda espera. Foi de poucos amores e estes não soavam a verdade que sempre mereceu. As vozes de todos os ventos passaram a ser amigas, nelas ainda confia, invadem seu espaço todo varrendo dúvidas e trazendo anseios. Voa junto como borboleta seguindo os rumos que indicam e certamente pousará sem receio onde sua alma reconhecer que valerá a pena.

N.Marilda
14/09/15